REVISTA – MANCHETE

As agulhas mostram a sua força

 

E o Rio vira capital mundial da técnica chinesa

Espetar agulhas pelos quatro cantos do corpo como forma de equilibrar a energia vital há muito tempo deixou de ser predileção de orientais e exóticos. Recomendada desde 1979 pela Organização Mundial de Saúde, no Brasil ele já tem o Presidente Fernando Henrique Cardoso como um dos seus clientes. E ganhou o direito a hospitais públicos, como o Paulino Werneck, na Ilha do Governador, e o Miguel Couto, no Leblon, Rio. Mas seu visto definitivo de permanência no país foi o 1º Congresso Internacional de Acupuntura, realizado na semana passada, no Rio.

O Congresso, que comemorou os 35 anos de introdução da milenar técnica chinesa do Brasil, reuniu os 14 maiores especialistas da acupuntura mundial. Foi lembrada a figura do médico luxemburguês Frederich Späeth, responsável pela chegada da técnica ao país, nos anos 50.

A brasileira Ana Oliveira, que há 14 anos aplica acupuntura em adictos do crack e a cocaína no South Bronx, Nova Iorque, contou que, ao entrar pela primeira vez numa clínica para viciados, ficou impressionada com a calma das pessoas. Quando viu que era por causa da acupuntura, decidiu conhecer o trabalho. “É uma experiência fascinante”, ela diz. A pessoa vai perdendo a vontade de tomar drogas, até a cura completa.

Em 1990, o acupunturista Márcio de Luna (organizador do congresso) tentou realizar um trabalho semelhante com moradores da favela da Rocinha, Rio. “Tive resultados positivos, mas, como era uma iniciativa própria, não consegui manter o projeto por muito tempo.” Ele espera que o trabalho da Dra. Ana Oliveira sirva de incentivo para reativar o projeto.

Especialistas em tratamento de lombalgias como a que afeta o Presidente Fernando Henrique Cardoso fizeram palestras. Opinaram que se FH tivesse adotado a técnica chinesa, em vez da vertente japonesa, já teria se livrado da dor. Mas Edna Nishiya, a acupunturista do presidente, estava lá e garantiu que FH está ótimo: “Não tem sentido mais dores. Faço apenas uma manutenção do tratamento, quando ele vai a São Paulo.”

O psiquiatra Michael Smith, do Lincoln Hospital de Nova Iorque, explicou que a terapêutica chinesa diminui as fobias e a rebeldia características dos dependentes de drogas, pois estimula o funcionamento dos órgãos afetados e promove a fabricação de endorfinas, produzidas pelo sistema nervoso e que causam bem-estar. No caso da AIDS, as agulhas reduzem a fadiga, suores, diarreias, reações cutâneas e perda de peso. Pois o poder das agulhas vai muito além do que se supõe.

Extraída da revista Manchete, página 95, em 15 de abril de 1995.